"O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As pessoas agem no atacado assim como no varejo."
É incrível como aprendemos muito sobre
comportamento humano usando apenas a observação. É simplesmente ficar atento ao
comportamento de uma determinada pessoa, sem interferir
verbal e fisicamente. Recentemente tive uma experiência que pude aprender sobre
coerência de conduta.
Estava eu na sala de embarque do aeroporto de Confins, aqui em Minas Gerais.
Também estava ali um conhecido e admirado político esperando o mesmo voo. Quando o funcionário anunciou o embarque, pediu que se apresentasse
primeiro os passageiros das filas 10
a 15. Os demais deveriam esperar. É uma técnica para
agilizar a operação de embarque que as empresas de aviação usam. Como eu estava
na fileira 18, esperei. O político, que se sentava na mesma fileira que eu, foi
o primeiro a se posicionar no portão de embarque. Certamente estava no fundo do
avião, pensei. Entretanto, quando entro no avião, ele está sentado em uma das
primeiras poltronas.
Durante o pequeno vôo ( BH – SP ) refleti sobre o episódio. Por que o
ocorrido me incomodava? Ele não atrapalhou a viagem, nem comprometeu a
segurança; não tomou o lugar de ninguém, pois pagara seu bilhete; não
constrangeu ninguém, mas mesmo assim me sentia incomodado. Sim, mas por menor que seja o descumprimento a uma norma
de conduta constitui uma contravenção – conclui deste conflito mental. Pequena,
inocente e até insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção.
Do episódio
sobraram uma constatação e um aprendizado. A constatação: certamente, para ele,
o negócio é levar vantagem em tudo - um
automatismo, mesmo descumprindo as normas, do avião ou até mesmo da
constituição da República. O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas
pequenas. As pessoas agem no atacado assim como no varejo.
Saiba, você é
observado nas pequenas coisas - positivas e negativas -, principalmente se for
o líder de um grupo ou tiver as atenções voltadas para você por algum motivo.
Sempre alguém notará as sutilezas ou mazelas de seu comportamento cotidiano e
pensará: "Ele é assim".
Para terminar a história do político, o motorista que me apanhou no
aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto de se emocionar ao vê-lo e comentar:
"Ele é um bom político - rouba, mas faz". O que me levou a perguntar-lo: "O senhor não acha que ele poderia
fazer sem roubar? Respondeu ele, "Mas ele é um político... São todos
assim", ponderou. Essa visão conformista explica muita coisa, segundo ele
quem detêm poder se isenta da ética e da moral.
Não se trata disso, e sim de uma obrigação. Ele foi eleito para cuidar dos
interesses da sociedade, e não dos seus próprios. Sobre isso, diria Platão:
"Ética sem competência não se instala. Competência sem ética não se
sustenta". A não ser, é claro, que levar vantagem em tudo seja um traço
cultural do brasileiro, imposto pela cononização, o que significaria apunhalar a meritocracia. E isso não convém a
ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for um líder
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